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31/03/2017 - 10:00

Instituições Financeiras

Com fim da alíquota zero, IOF maior reduz vantagem de cooperativas

Enquanto os bancos adotaram uma postura mais conservadora que resultou em retração da carteira de empréstimos no último ano, as cooperativas de crédito aproveitaram para ganhar mercado e, ao oferecer condições mais vantajosas, se mostraram alternativa de financiamento para as pessoas físicas e pequenas e médias empresas.


O setor vinha otimista, mas foi chacoalhado pelo anúncio da elevação de tributos sobre as operações de crédito das cooperativas. Nesta semana, o governo anunciou aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas operações de crédito realizadas pelas cooperativas, algo que deve gerar R$ 1,2 bilhão em arrecadação para a União. A expectativa do setor é que os detalhes da elevação serão anunciados hoje.


LEIA MAIS: Governo revoga a alíquota zero do IOF para as cooperativas de crédito (Decreto 9.017/2017)


A mudança acendeu uma luz amarela e pode reduzir a vantagem do setor sobre os grandes bancos, elevando o custo de crédito para os cooperados. Só para se ter uma ideia, a economia tributária do Sicoob, o maior do setor em ativos, foi de R$ 347 milhões apenas com o IOF, segundo dados de dezembro de 2015. “Esse aumento de imposto não foi discutido com o setor em momento nenhum”, diz o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas. “Acho que o crescimento do setor pode ter chamado a atenção”, reconhece.



Os três principais sistemas de cooperativas, que têm 90% do setor, tiveram alta entre 10% e 18% na carteira de crédito em 2016, totalizando R$ 79,5 bilhões. Considerando apenas os quatro maiores bancos, o estoque de empréstimos teve queda de 5,8% em igual período, fechando o ano em R$ 2,11 trilhões. As previsões das cooperativas para o saldo de crédito neste ano também são de alta, que variam de 7% a 18%.


Uma das razões para esse crescimento da carteira é o custo mais vantajoso nas linhas de crédito oferecidas pelas cooperativas – justamente o que está em risco com o aumento da carga tributária para o setor. Até o anúncio, as cooperativas contavam com menor tributação nas operações de crédito. Elas são isentas, por exemplo, da cobrança de até 3% ao ano, a depender do prazo, do IOF nos empréstimos para cooperados. Essa é a alíquota com mais chances de passar a ser cobrada.


Além do IOF, as cooperativas também não contam com a cobrança de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Imposto de Renda e PIS/Cofins nas operações de crédito. No caso da CSLL e do IR, esses tributos são descontados apenas na distribuição do lucro para os cooperados e nos demais serviços que não envolvam empréstimos.


Freitas, da OCB, reconhece que a alta do tributo deve encarecer o custo do crédito para os cooperados, mas acredita que o setor deve manter o ritmo de crescimento das concessões dos anos anteriores. Segundo ele, as cooperativas não foram consultadas sobre a alta do imposto e a vantagem tributária compensaria algumas desvantagens como, por exemplo, a impossibilidade de ter entes públicos como cooperados.


As cooperativas como um todo emprestaram R$ 78,7 bilhões em 2016, até setembro, segundo dados compilados pela OCB, com base nas informações do BC, o que representa crescimento de 12,43% sobre igual período de 2015. Já o volume de concessões no sistema financeiro como um todo caiu 3,53% no período, somando R$ 3,2 trilhões. Contudo, as cooperativas representavam apenas 3,43% do sistema financeiro em setembro, com um total de R$ 204,145 bilhões em ativos, referente a um universo de 1.068 instituições.


O Sicredi, sistema com mais de 3,5 milhões de associados e que reúne 118 cooperativas, teve crescimento 18,3% da carteira de crédito em 2016, que somou R$ 36,2 bilhões. No sistema Sicoob (Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil), o maior do setor em termos de ativos e que reúne 485 cooperativas, a alta foi de 15,4% da carteira de crédito em 2016, que totalizou R$ 38,4 bilhões. “Para este ano, projetamos crescimento entre 14% e 18%”, afirma Francisco Reposse Júnior, diretor geral do Sicoob.


Já a Confederação Nacional das Cooperativas Centrais Unicreds-Unicred do Brasil, que representa 34 cooperativas e é a terceira no ranking do BC em termos de ativos, teve alta de 9,6% da carteira de crédito, que somou R$ 4,874 bilhões. “Para este ano, esperamos um crescimento para R$ 5,2 bilhões”, afirma Fernando Fagundes, presidente da Unicred.


Algo que chamou atenção entre as cooperativas foi o crescimento dos depósitos via poupança. No Sicredi, a captação via poupança aumentou 33,8%, totalizando R$ 6,9 bilhões em 2016, enquanto o sistema registrou captação líquida negativa de R$ 40,1 bilhões. “A poupança é uma fonte importante de funding para o crédito rural e o trabalho regional ajudou a aumentar a captação, porque esses recursos acabam voltando para a região”, diz João Tavares, diretor executivo do Sicredi.


Na contramão dos grandes bancos, as cooperativas também estão ampliando o número de agências físicas, com o objetivo de buscar maior proximidade com os cooperados. O Sicoob, que conta com 2.066 pontos de atendimento, pretende ampliar de 4% a 8% o número de agências neste ano. Já o Sicredi, que conta com 1.504 pontos de atendimento, prevê a abertura de 84 agências em 2017. No ano passado, o Sicredi inaugurou uma agência “modelo” na Avenida Paulista, em São Paulo, com o objetivo de mostrar que está apto a entrar nos grandes centros, diz Tavares.


As cooperativas também têm ampliado o leque de produtos e serviços e todas miram investimentos em tecnologia, com planos de abertura de conta digital. O sistema também busca apagar de vez a imagem pouco profissional que sustentava em um passado não tão distante. Para isso, é supervisionado pelo BC e os cooperados, assim como nos bancos, contam a cobertura de depósito de até R$ 250 mil por CPF do fundo garantidor do setor. “Estamos numa fase de apagar essa imagem antiga das cooperativas que deram problema”, diz Tavares, do Sicredi.


FONTE: Valor Econômico



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